Novas evidências encontradas pela BBC News lançam mais dúvidas sobre a versão da guarda costeira grega sobre os eventos relacionados ao naufrágio de um barco de migrantes que ocorreu no mês passado, no qual quase 600 pessoas morreram.

De acordo com dois sobreviventes, a guarda costeira os pressionou a identificar nove egípcios a bordo como os responsáveis pelo tráfico humano. Além disso, um vídeo do barco afundando desafia a versão oficial da guarda costeira. As imagens mostram o barco em um “curso estável” quando afundou, contradizendo as afirmações das autoridades gregas.

A reportagem teve acesso a documentos judiciais que revelam discrepâncias entre as declarações dos sobreviventes registradas pela guarda costeira e as evidências apresentadas ao juiz posteriormente. Um intérprete também relatou intimidação por parte da guarda costeira em uma investigação anterior de tráfico de pessoas.

Essas revelações levantam preocupações sobre a conduta das autoridades gregas diante desses desastres. Tanto a guarda costeira grega quanto o governo se recusaram a comentar ou conceder entrevistas sobre o assunto.

Os sobreviventes afirmam ter sido silenciados e intimidados pelas autoridades gregas, que tentaram encobrir sua possível responsabilidade pela tragédia. Alegações de que a guarda costeira usou uma corda para rebocar o barco também surgiram.

A reportagem teve acesso a documentos judiciais que questionam a coleta e a apresentação de provas em tribunal. As declarações iniciais dos sobreviventes não mencionaram a tentativa de reboque pela guarda costeira, mas mais tarde, diante do juiz, todos afirmaram que isso ocorreu.

A guarda costeira inicialmente negou o uso da corda, mas depois admitiu que o equipamento havia sido usado para avaliar a situação do barco. No entanto, as evidências sugerem que o barco foi arrastado por uma distância considerável.

Até o momento, foram confirmadas 82 mortes no naufrágio, mas a ONU estima que o número de mortos seja superior a 500. Os homens egípcios acusados enfrentam prisão perpétua se forem considerados culpados. Alguns sobreviventes alegam que esses homens maltrataram as pessoas a bordo, enquanto outros testemunhos indicam que eles estavam tentando ajudar.

Um vice-promotor da Suprema Corte Criminal da Grécia está conduzindo uma investigação, mas os pedidos de um inquérito internacional e independente foram ignorados até o momento. Ahmad e Musaab, os dois sobreviventes entrevistados, compartilham preocupações sobre a conduta da guarda costeira grega.

Outros casos anteriores também levantaram suspeitas sobre a guarda costeira grega. Um tradutor relata ter testemunhado a guarda costeira acusar injustamente dois iranianos de tráfico de pessoas no ano passado. Ele afirma que os relatos dos migrantes foram alterados sob pressão das autoridades gregas.

Advogados e especialistas apontam falhas nos processos judiciais relacionados a contrabando de pessoas na Grécia, destacando preocupações sobre traduções imprecisas e a falta de oportunidades para contestar as evidências apresentadas.

Os sobreviventes e seus apoiadores exigem uma investigação adequada do naufrágio e o resgate dos corpos afundados, mas as autoridades argumentam que isso é difícil devido à profundidade da água. A falta de ação das autoridades diante dessas denúncias levanta questões sobre os direitos humanos na Grécia.

Os sobreviventes esperam que suas histórias sejam ouvidas e que haja uma investigação justa e imparcial sobre o naufrágio e as ações da guarda costeira.